Cigarro causa mais danos à pele que o sol.

O cigarro, até agora visto como fator secundário de envelhecimento da pele, já é considerado o principal causador de rugas profundas no rosto, especialmente nas mulheres. Pesquisas recentes mostram que a nicotina produz uma enzima que destrói as fibras que formam o colágeno, substância protéica das fibras da pele.

Em uma delas, um grupo de pesquisadores da Universidade de Nagoya (Japão) verificou uma queda de 40% na produção do colágeno quando adicionada fumaça de cigarro a fibroblastos (células da pele que produzem o colágeno). Sem ele, a pele perde a elasticidade, acelerando o processo de envelhecimento precoce.
 



A nicotina também bloqueia as ligações cruzadas da elastina (proteína fibrosa e elástica presente na pele), reduz a lubrificação cutânea e os níveis de vitamina A (antioxidante que combate os radicais livres). E o que é pior: diminui o calibre dos vasos sangüíneos que irrigam o tecido cutâneo, prejudicando a oxigenação das células.

"Ao fumar um único cigarro, a redução do oxigênio na pele diminui por cerca de uma hora. Um fumante de um maço diário permanece em hipoxia (baixo nível de oxigênio) cutânea na maioria das horas do dia. O sol agride muito a pele, mas fumar é ainda pior", afirma o médico Marcus Maia, da clínica dermatológica da Santa Casa de São Paulo, um estudioso sobre a ação do cigarro no envelhecimento da pele.

Segundo Maia, as substâncias tóxicas presentes no cigarro estimulam a produção de leucócitos, que liberam íons superóxidos (radicais livres) e inativam as enzimas que, normalmente, protegeriam a pele. Ao mesmo tempo, o fumo diminui a concentração de tocoferol, betacaroteno e retinol na pele, substâncias importantes para inativar os radicais livres.

Presentes na corrente sangüínea, esses radicais tóxicos da nicotina atingem as fibras de colágeno e elastina em toda a derme (camada mais profunda da pele) e causam rugas mais intensas. Já o sol, explica Maia, atua através na camada superficial da pele e provoca rugas mais finas.

No jargão dermatológico, a "face-do-fumante" se caracteriza por rugas profundas, pele flácida e levemente pigmentada (acinzentada, amarelada ou avermelhada) e proeminência dos contornos ósseos do rosto. "A gente olha para a pessoa e é fácil acertar se ela é ou não fumante. A pele perde o rosado, fica meio amarelada, meio cinza. É um aspecto de pergaminho", afirma a dermatologista Denise Steiner, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia (regional São Paulo).

Steiner diz que é objetivo da sociedade enfatizar os efeitos negativos do cigarro nas próximas campanhas de prevenção ao envelhecimento precoce da pele. Em relação ao câncer de pele, a ação da radiação ultravioleta dos raios solares é a principal causa, embora, entre os fumantes, a evolução da doença seja mais rápida.

Alguns estudos também sugerem que as mulheres apresentam um risco de envelhecimento precoce, pelo cigarro, maior do que os homens porque a nicotina interfere no fluxo de estrógeno (hormônio atuante na síntese do colágeno e da elastina) para a pele.

Segundo a dermatologista Ana Lúcia Recio, o hábito de fumar também pode destruir as fibras que sustentam a pele do rosto, provocando sulcos na região da boca e dos olhos. Ela lembra, porém, que há fatores genéticos que determinam maior ou menor prejuízo causado pelo cigarro à pele. "Há fumante com a pele bonita. Não é maioria, mas existe."

Exemplo disso é a psicóloga Luciene Jimenez, 42, que fuma há 26 anos e tem uma pele boa, na avaliação da dermatologista que a acompanha. "É de família. Minha mãe tem 67 anos, é fumante e não aparenta a idade que tem", diz.

Mas Jimenez não deixa a aparência só a cargo da genética. Os cuidados com a pele incluem protetor solar diário e produtos diferentes no verão e no inverno. Ela conta que começou a fumar aos 16 anos, em uma época em que o hábito era considerado charmoso e, ao mesmo tempo, um meio de romper modelos. "Não tínhamos consciência do prejuízo à saúde. Quando tomei conhecimento disso, já estava viciada", afirma a psicóloga, cujo pai, também fumante, morreu de câncer na garganta.

CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

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